Defesa Civil e Cruz Vermelha

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Prefeitura de Lajeado-RS

Realidade preocupante das águas da Bacia Taquari-Antas

Aepan-ONG também monitora Rio Taquari
66,6% dos pontos monitorados têm o pior nível de poluição
Diagnóstico do plano da bacia hidrográfica mostrou números inquietantes com relação à qualidade da água e às doenças oriundas do recurso

Vale do Taquari - Informações compiladas em 56 slides apresentaram ontem uma realidade preocupante das águas da Bacia Taquari-Antas. O diagnóstico do plano da bacia hidrográfica apontou, mesmo que de forma preliminar, que dos seis pontos monitorados na unidade Baixo Taquari-Antas, onde está situado o Vale do Taquari, quatro (ou 66,6%) indicam o nível mais elevado de poluição. 

O relatório levou em conta as classes de qualidade estipuladas em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Os pontos acompanhados estão nas cidades de Muçum, Lajeado, Encantado, entre Estrela e Cruzeiro do Sul, Bom Retiro do Sul e Triunfo. Esses quatro últimos concentram cenário crítico.

A situação, na visão do presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica, Daniel Schmitz, é preocupante, especialmente se for aliada a outro dado do diagnóstico: 35% das doenças de veiculação hídrica no RS ocorrem na região da bacia, formada por 118 municípios. “Essas duas características reveladas são assustadoras para uma região que se diz tão desenvolvida.” Para Schmitz, os dados estão estreitamente ligados à falta de investimentos na área de saneamento. 

Dentro dessa questão também surge um dos pontos positivos elencados no estudo, que é justamente o apontamento da necessidade do Poder Público investir mais no tratamento de esgoto. 
A qualidade do recurso hídrico, em 66,6% dos focos monitorados no Baixo Taquari-Antas, enquadra-se dentro da classe 4, segundo critérios do Conama. Essa classificação é a última na lista da qualidade. A resolução do órgão diz que essa água serve para navegação, harmonia paisagística e usos menos exigentes, enquanto que as classes especial, 1, 2 e 3 seriam destinadas ao abastecimento de água.

Altos índices de fósforo explicariam o comprometimento da qualidade na região. Em toda a bacia, o elemento químico faz com que 65% dos pontos monitorados sejam compatíveis aos níveis de maior contaminação. Conforme o presidente do comitê, o fósforo é medido pelos lançamentos de efluentes industriais, efluentes de dejetos animais e de esgotamento sanitário. Ainda pode estar ligado à aplicação dos agrotóxicos nas lavouras da região e a uma quinta possibilidade, que vai ser melhor discutida tecnicamente a partir de agora, ligada à geologia da bacia.

De qualquer maneira, a notícia é depreciativa. “Se nossas águas fossem paradas e se o nosso rio não fosse tão grande, teríamos índices de qualidade piores do que o Rio dos Sinos, e os peixes praticamente não sobreviveriam nessas condições”, alerta Schmitz.

Qualidade é medida nas águas superficiais
O diagnóstico da qualidade das águas levou em conta a parcela superficial (rios e arroios) e não a subterrânea (poços). As pequenas cidades, geralmente, se abastecem por meio dessa última opção. Lajeado e Encantado utilizam-se da forma mista. No total são 17% dos municípios da bacia que usam a forma mista - superficial e subterrânea. Mas a maioria, 70%, extrai água para abastecimento público de poços. Em contrapartida, 69% de toda a população da bacia, estimada em 1,2 milhão de habitantes, serve-se das águas superficiais, que apresentaram níveis altos de poluição.

Bacia responde por 35% das doenças de veiculação hídrica
O fato de 35% das doenças de veiculação hídricas estarem concentradas na bacia alarma o presidente do comitê, Daniel Schmitz. “O índice é altíssimo. A causa disso era aquilo que já sabíamos, se falta saneamento dos municípios, temos problemas com saúde”, simplifica. Para o presidente da Associação dos Secretários e Dirigentes Municipais de Saúde do Vale do Taquari (Assedisa), Marino Deves, o número também é preocupante. “Embora eu não conheça a origem desses dados, posso dizer que, acreditando nesse estudo, o número é realmente muito elevado e mostra que vai caber a cada município uma análise criteriosa de suas águas”, ressalta. Deves credita o trabalho para as vigilâncias sanitárias que agora estão em fase de formação de equipes em cada cidade. “Essa é uma situação nova, e os municípios vão ter que tomar as providências necessárias. Acredito que, como a pesquisa é embasada, temos que aproveitá-la para monitorar os serviços de vigilância e de epidemiologia”, acrescenta.

A pesquisa
O relatório foi constituído com base em informações levantadas com entidades de Estado, organizações setoriais e por meio do trabalho de campo realizado pela empresa consultora Serviços Técnicos de Engenharia S.A. (STE), de Canoas, responsável pela elaboração do plano. Um questionário também foi encaminhado a 118 municípios integrantes da bacia, com 59 perguntas divididas nos seguintes módulos: caracterização do município, abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e resíduos sólidos. Responderam 75 municípios, o equivalente a 64% da bacia, que é dividida em sete unidades de gestão. O Médio Taquari-Antas e o Baixo Taquari-Antas, onde está situado o Vale do Taquari, concentram 77% do Produto Interno Bruto (PIB) numa área correspondente a 40% da bacia. 
Das 25 sub-bacias consideradas no diagnóstico, 72% são contempladas por pelo menos um ponto de monitoramento da Fepam, do próprio plano da bacia, da Certel, da Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) e do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Caxias do Sul. A pesquisa foi explanada, em reunião na Univates, também pela empresa STE, responsável pela elaboração do projeto.

Próxima etapa
Depois de apresentado o diagnóstico em reunião na Univates ontem, o plano agora segue para a fase de finalização do estudo. Os membros do comitê, por meio de suas categorias, vão ter até final de janeiro para conhecer, dialogar e aprimorar as questões levantadas no documento. A secretária do Meio Ambiente de Estrela, Ângela Schossler, cita que novas discussões são necessárias, até porque alguns pontos ficaram em aberto. “Esse é um relatório preliminar, por isso o comitê decidiu se reunir e ler todo ele para apontar o que considera deficiente. Em fevereiro queremos ter um estudo bem mais completo”, cita.
A partir de março de 2012 estão marcadas as consultas públicas para a participação da sociedade. “A população vai poder tomar conhecimento sobre o conteúdo e colocar a sua intenção com relação ao uso da água. Sabemos que a bacia tem muito a fazer e queremos informações e sugestões para podermos chegar às decisões”, complementa Schmitz.

Pecuária exige grande demanda
A criação de animais demanda água para dessedentação e higienização das baias e, segundo o plano, o tratamento em meios líquidos dos dejetos suínos apresentam maior potencial poluidor aos mananciais. Por ano, na unidade Baixo Taquari-Antas, a demanda hídrica da pecuária é de 50 milhões de metros cúbicos, correspondente a 33% do total da demanda de toda a bacia. Enquanto isso, a carga de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) gerada pela pecuária é de 500,7 mil quilos DBO por dia, equivalente ao dobro das demais unidades da bacia. Já a carga de DBO do esgotamento sanitário é de 21,5 mil quilos por dia e de resíduos sólidos, 337,6 mil quilos por dias. Nesses dois pontos, a região perde só para o Médio Taquari-Antas, onde estão situadas cidades como Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi, São Marcos e Veranópolis.

Fonte - Cíntia Marchi
cintia@informativo.com.br

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